Importado leva cliente do fabricante local – Valor

    07/03/2012

    Por Marta Watanabe | De São Paulo – Valor Econômico

    José Ricardo Roriz Coelho, da Vitopel: a protecionista Argentina sofre menos

    A Vitopel, maior produtora de filmes plásticos da América Latina, reduziu sua produção de 108 mil toneladas em 2010 para 100 mil no ano passado. O principal produto da empresa são filmes flexíveis utilizados para adesivos, rótulos e embalagens de alimentos.
    José Ricardo Roriz Coelho, presidente da empresa, conta que o problema não foi a demanda doméstica. Segundo dados da Abiplast, associação que reúne fabricantes do segmento, o volume consumido de produtos plásticos no país em 2011 aumentou em 6,4% em relação a 2010. A indústria de plásticos, porém, amargou queda de 1,5% na produção física.
    O principal problema foi a concorrência do importado, diz Roriz, que conseguiu tirar maior proveito do aumento do consumo interno. O volume de importação de transformados plásticos cresceu 7,5% no ano passado, na comparação com 2010. Com o crescimento, diz Roriz, a cada quatro toneladas de plástico flexível consumido no país, uma passou a ser importada.
    O que aconteceu com a Vitopel e com a indústria de plástico reflete, na verdade, uma realidade mais generalizada na indústria de transformação, segundo os dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2011. Com a aceleração mais forte no fim de 2011, o consumo das famílias encerrou o ano passado com crescimento de 4,1% em relação ao ano anterior. A produção da indústria de transformação, porém, caiu 2,5% no quarto trimestre, na comparação com os três meses anteriores, fechando 2011 de forma praticamente estável, com elevação de apenas 0,1% em relação a 2010. Segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria de transformação traz para 2012 um carregamento negativo de 3,3%.
    Flávio Castelo Branco, economista da CNI, diz que os dados do PIB revelam uma indústria descolada do restante da economia. Com a queda no último trimestre de 2011 na comparação com o terceiro trimestre, diz, o PIB da indústria de transformação está no menor nível desde o quarto trimestre de 2009, quando o país ainda sofria os efeitos da crise financeira de 2008. O problema, porém, é que o cenário doméstico é outro, com crescimento da economia, embora não tão forte quanto em 2010.
    O economista da CNI diz que o desempenho resulta da falta de competitividade do produto brasileiro, agravada pela valorização do real frente ao dólar, que incentiva a importação e tira vantagem da exportação.
    Há mais de 20 anos produzindo produtos plásticos, a Vitopel tem três fábricas, duas no Brasil e outra na Argentina. Além de enfrentar a concorrência do importado, a empresa perdeu na exportação. Em 2010 a Vitopel destinava 18% da produção para o exterior. No ano passado a parcela caiu para 10%. O desempenho afetou a capacidade ocupada nas fábricas brasileiras, que têm produção voltada para o mercado externo. A linha de produção argentina, voltada para o consumo doméstico, trabalhou em 2011 com o total da capacidade, de 30 mil toneladas/ano. As duas fábricas brasileiras, com capacidade total de 110 mil toneladas/ano, trabalharam com 70 mil toneladas/ano. "A Argentina tem uma política mais protecionista e, por isso, o impacto da importação foi bem menor", diz Roriz.
    No Brasil, as medidas do governo, diz Castelo Branco, tanto de defesa contra importação quanto para redução de custos de produção, ainda não trouxeram resultados ou foram tópicas. "E o mundo anda muito rápido", diz. Para Castelo Branco, como há limites para alterar o câmbio, a solução seriam medidas mais estruturais, como a desoneração do investimento e da folha de salários de forma mais ampla. "Também precisamos de novos incentivos à inovação. Atualmente só quem está no lucro real consegue aproveitar os incentivos fiscais para inovação e mais de 90% das empresas estão fora do lucro real." Se não houver crescimento maior do investimento, diz, a produtividade brasileira deve cair e o país perde mais competitividade.
    O investimento para diversificar é a saída buscada por José Carlos Nadalini, presidente da Engrecon, empresa de peças do setor automotivo. Ele diz que no ano passado, em razão da reação do mercado de motocicletas, conseguiu aumentar em 10% o faturamento na comparação com 2011. Mas a base de comparação, lembra, é baixa. A empresa ainda não conseguiu recuperar o nível anterior de produção. No biênio 2009/2010, a receita da empresa caiu 20% em relação a 2008. A empresa planeja inaugurar no segundo semestre uma linha de engrenagens para caminhões. "É um produto sofisticado, que ainda não tem importação."

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