Plástico é usado em painel para captar energia solar

    25/02/2013

    Uma equipe de pesquisadores baseada em Belo Horizonte desenvolveu uma tecnologia que transforma pedaços de plástico transparente, fino e flexível em painéis de energia solar.

    A novidade representa uma pequena revolução na forma de gerar energia limpa a partir da luz do sol. Em vez das grandes e pesadas placas de silício atuais, que precisam ser instaladas sobre telhados ou em grandes áreas de terra, o plástico pode simplesmente ser aplicado em janelas ou fachadas de edifícios, convertendo a luz recebida em eletricidade, diz Tiago Maranhão Alves, que lidera o projeto.

    Maranhão comanda o CSEM Brasil, uma instituição criada em 2007, na capital mineira, fruto de uma parceria entre o Centre Suisse dÉletronique e Microtechnique e a gestora de investimentos FIR Capital, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do governo do Estado.

    Os “plásticos solares” são feitos com células fotovoltaicas orgânicas (OPV, na sigla em inglês), um material à base de polímeros e plástico que pode movimentar bilhões de dólares nos próximos anos em todo o mundo só com a fabricação da nova geração dos painéis solares.

    “É uma quebra de paradigma”, disse Alves, em entrevista ao Valor. Segundo o pesquisador, apenas dois ou três centros na Europa e nos Estados Unidos voltados à chamada eletrônica orgânica impressa chegaram ao estágio de produzir esse tipo de painel em filme plástico. No exterior, já foram feitos alguns testes comerciais e o produto está prestes a entrar no mercado, mas os processos de cada centro de pesquisa são guardados a sete chaves. “Acabamos de pôr o Brasil no pelotão de elite nessa área, com potencial ser sermos competitivos e ganhar escala global.”

    A eletrônica orgânica tem algumas aplicações já conhecidas, como baterias, telas e memórias, mas a equipe do CSEM Brasil concentrou-se em painéis solares.

    A aparência do material obtido pela equipe de Alves é trivial: um rolo de filme plástico do tamanho de um palmo e com uns 15 cm de altura; o plástico é transparente, mas tem pequenas faixas acinzentadas, nas quais estão impressos os polímeros orgânicos à base de carbono que compõem as células fotovoltaicas.

    As possibilidades de uso do novo painel solar de plástico são inúmeras, disse Alves. Vão desde revestir prédios, aeroportos, estádios e capotas de carro até deixar milhares de pedaços de plástico boiando nas águas de usinas hidrelétricas. “Eu queria levar isso aqui no lombo de um burro para uma localidade isolada do Nordeste que nunca teve energia elétrica. Isso é fácil de transportar e você cola no telhado ou na fachada de uma casinha em qualquer lugar.” Um painel de filme plástico de 2 metros por 2 metros seria suficiente para fazer funcionar uma lâmpada, uma TV e parte do consumo de uma geladeira, estima o pesquisador. Quanto maior o tamanho do plástico, mais energia estará disponível.

    Nascido em Recife, Alves, de 38 anos, é formado em engenharia e física. No ano 2000, ele se mudou para Cambridge, no Reino Unido, onde ganhou uma bolsa de estudos para um MBA. Ficou 10 anos na Europa. Quando a CSEM e a Fir Capital criaram o centro, em Belo Horizonte, ele viu a oportunidade de voltar ao Brasil, com a mulher grávida do segundo filho.

    Em 2011, o centro começou a trabalhar para desenvolver os processos próprios para criar as células fotovoltaicas usando a eletrônica orgânica. A equipe reúne cabeças de 11 nacionalidades: além de pesquisadores brasileiros, o centro reúne talentos dos Estados Unidos, Reino Unido, Polônia, China, Colômbia, Quênia, entre outros países.

    No fim do ano passado, uma estrela juntou-se ao grupo: o americano James Buntaine, que foi vice-presidente mundial de tecnologia da Kodak e tornou-se uma referência por ser pioneiro no desenvolvimento da eletrônica orgânica impressa.

    Os métodos usados pelo CSEM é mantido em sigilo. “A maior parte da propriedade intelectual dos processos que criamos estará sob a condição de segredo comercial”, disse Alves.

    Até agora, o projeto consumiu R$ 20 milhões, com recursos próprios do CSEM Brasil e da Fapemig. Outros R$ 20 milhões – ainda em negociação – serão necessários para melhorar a eficiência da produção e aumentar o tamanho dos painéis em escala industrial. Mas quem quiser experimentar a novidade, as primeiras versões dos painéis já estão disponíveis. Os preços são combinados caso a caso, disse o pesquisador.

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