Artista plástico do plástico

    12/03/2014

    Juan Muzzi é um senhor de 66 anos, piloto de avião, com uma veia artística invejável. Desde os quatro anos de idade acompanhava seus avós, escultores, no quintal de casa. Aos quatorze, criava seus próprios produtos, de diversos materiais, que lhe geravam um dinheiro extra. Muzzi também pinta telas e cursou engenharia, o que lhe rendeu alguns empregos pelo mundo. Mas só quando veio parar no Brasil, onde conheceu o plástico e criou sua empresa, a Imaplast, em 1970, suas ideias inovadoras ficaram conhecidas. Com uma mola e uma bicicleta de plástico, o empresário rodou o mundo e atingiu os mais diferentes mercados do exterior.

    Proativo ao extremo, Muzzi se considera um artista plástico e um artista do plástico. Dentre suas criações estão patins, skates, tênis com rodinhas ou com luzes que piscam quando pisa, sapatos que crescem junto com o pé, e até mesmo a conhecida mola maluca (aquela mola plástica colorida que desce escadas), que apesar de ter sido inventada em 1943, em metal, por acaso, foi nas mãos do uruguaio que ela foi parar em 22 países, repaginada em material plástico com as cores do arco íris.

    “A arte foi fundamental para fazer o que faço. Meu diferencial é fazer coisas inovadoras em design de produto, tanto na área técnica quanto na utilidade”, declara Juan Muzzi. Após se formar em engenharia, o empresário pegou projetos para trabalhar pelo mundo. Passou por diversos países, que lhe deram muitas noções de cultura, de interesse e demanda, ajudando-o a conquistar novos espaços. “Fui fazer projetos na área do café. Fui pra Itália, me especializei na área das máquinas, e depois de três anos entrei no plástico por acaso”, explica.

    Seu primeiro contato com o material foi após um incidente em Milão, em 1971, quando quebrou um brinquedo do Leonardo da Vinci e teve de compra-lo. “Era uma pomba voadora que você dava corda e saía voando, e soltou o elástico, então a italiana ficou muito brava e me fez comprar. Eu nem tinha dinheiro, fiquei duro”, conta o uruguaio.

    Da mola ao mundo

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    Ao retornar ao Brasil, com a empresa em que trabalhava indo de mal a pior, sua esposa o convenceu a fabricar brinquedos criativos, e Muzzi então passou a fabricar a tal Pomba, em versão plástica. “Foi o primeiro contato com o plástico”, confessa.

    Mas o sucesso e a projeção internacional do empresário vieram em 1986, com a Molamania, ou Mola Maluca, já que, de acordo com Juan Muzzi, “em cada país tinha um nome diferente”. O brinquedo era uma ideia simples adaptada ao plástico, foi bem aceita e até foi utilizada em filmes. “Fiquei conhecido no mundo inteiro, e isso me ensinou a trabalhar com o mercado exterior. Vendia para a França, Alemanha, Rússia, e isso me ajudou a entender como o mundo é pequeno, como é fácil de fazer. Essa mola me abriu o mundo”. O brinquedo só estourou no Brasil nos anos 90.

     Bicicleta

    Depois da mola vieram diversas outras criações, mas talvez a sua obra prima esteja saindo do forno (ou do molde) nos dias de hoje. Muzzi é autor de um projeto inovador de um quadro para bicicleta feito inteiramente de plástico reciclado pré-moldado em uma forma capaz de produzir 10 mil peças por mês e revolucionar o mercado de bicicletas mundial. A descrição que o empresário dá ao seu produto é motivadora: “Inovadora, contemporânea, ambiental, cuja fabricação não necessita a extração de minérios que geram um custo de energia tremendo e um custo formidável de CO2. Nós criamos uma bicicleta feita com combustível fóssil com coisas que já foram usadas, plástico novo ou velho, coisas que já circularam na sociedade”.

    O projeto começou quando fabricava patinetes e foi visitar uma fábrica de bicicletas onde comprava peças. Após constatar as condições precárias de produção e o tempo gasto para que cada quadro fosse feito, sugeriu a substituição das soldas por nylon injetado. Apesar de ter seu pedido negado, Muzzi não se deu por vencido: foi para casa trabalhar no seu molde, que se tornou um protótipo. Foram gastos mais de R$ 4 milhões e demorou 14 anos para se consolidar de fato. Muzzi até vendeu seu avião e um ateliê em Punta del Este.

    Hoje, alguns diferenciais contribuem para o sucesso do produto, que já roda no Uruguai. Primeiro, o empresário foi buscar patentes para o molde do quadro, e conseguiu patentes americanas, holandesas e um certificado ABNT do renomado laboratório de análises técnicas brasileiro Falcão Bauer. “O produto ainda pegou um momento ecológico da sociedade que vivemos, as pessoas que viam se interessavam”. O molde criado pelo engenheiro é peça única.

    Sua invenção já lhe rendeu entrevistas para os maiores canais de televisão do mundo, incluindo Globo, CNN e televisões chinesas. Hoje, além de vender internamente seus produtos para empresas como Bradesco, Petrobrás, e Natura, sua empresa está exportando para a Coca-Cola na Colômbia e tem negócios com Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Itália e Espanha. “Eu vendo mais lá fora que no Brasil”, confessa Muzzi.

    “São dois fatores importantes. Primeiro, quando se cria uma inovação, coloca-se uma barreira de entrada muito grande, e é preciso correr atrás. Outra coisa é o mercado: se fizer uma latinha de refrigerante redonda, por exemplo, você precisa ver se o mercado vai querer tomar refrigerante em uma lata redonda”, prega Juan Muzzi.

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