Montadoras puxam para baixo resultado dos fornecedores

    25/08/2014

    Os resultados ruins apresentados este ano pelas fabricantes de automóveis – queda de 16,8% na produção, de 7,6% nas vendas internas e de 35,4% nas exportações no primeiro semestre – vêm puxando para baixo o desempenho de toda a cadeia automotiva. Setores que têm dependência forte das montadoras, como os de plásticos, siderurgia e, claro, autopeças, também apresentam desempenho negativo no ano.

    De abril a junho, a indústria de componentes plásticos, por exemplo, demitiu 3.133 trabalhadores. Com isso, o segmento encerrou o semestre com saldo negativo de 158 postos. Embora pareça pouco, foi a primeira vez, em 15 anos, que o número de vagas ficou negativo.

    O recuo dos pedidos da indústria automobilística, responsável por cerca de 10% das encomendas das fabricantes de produtos plásticos, foi um dos principais responsáveis pelo fraco desempenho do segmento, que caiu 1,9% na primeira metade do ano em comparação ao mesmo período de 2013.

    “Começamos o ano prevendo um crescimento de 5% a 6% em nossas atividades, mas agora prevemos zero de crescimento ou até mesmo resultado negativo de 1,5% a 2%”, diz José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). “Estamos operando com 67% a 70% de nossa capacidade, quando o normal é de 75% a 80%.”

    O segmento industrial, como um todo, é um dos mais afetados pelo desempenho mais fraco das montadoras. Dados do IBGE mostram que, no primeiro semestre, o setor industrial registrou queda de 2,6% na comparação com igual período de 2013, com “comportamento predominantemente negativo nos setores de veículos e autopeças”, diz André Macedo, gerente da Coordenação da Indústria do IBGE.

    Além da atividade de veículos automotores, de janeiro a junho a fabricação de peças e acessórios caiu 15,4% ante 2013. A área de metalurgia recuou 5% (ver quadro). “É uma cadeia cujo efeito multiplicador é muito maior do que em outros setores importantes do PIB, como alimentos e bebidas”, diz Ricardo Pazzianotto, sócio da PriceWaterhouseCoopers (PwC).
    Pior ano. O efeito mais imediato recai sobre o setor de autopeças, que engloba também outros segmentos, como plásticos e químicos. As montadoras compram 70% das autopeças feitas no País. O faturamento das fabricantes caiu 7,6% até junho e 12 mil postos de trabalho foram eliminados no período.

    As demissões devem se acentuar a partir deste mês, com a aproximação do dissídio coletivo dos metalúrgicos. “Esperávamos uma reação do mercado, mas, como isso não ocorreu, as empresas devem acelerar as demissões”, afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori.
    A previsão do Sindipeças para o ano é de queda de 8% a 9% no faturamento ante 2013, de 50% nos investimentos e de cerca de mais 5 mil demissões até dezembro. Além disso, o setor deve registrar déficit recorde de US$ 11 bilhões na balança comercial. “Dos 30 anos que estou no setor, este talvez seja o pior”, avalia Butori.

    A produção de aço teve redução de 1% neste ano, queda que só não foi maior em razão do religamento de um forno da ArcelorMittal, informa Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr). As vendas internas caíram 6% e as externas, 11,6%.

    Lopes já dobrou para 5% a previsão de queda da produção neste ano, antes prevista em 2,5%. O setor tem 22% das vendas voltadas ao setor automotivo e também opera com elevada ociosidade. “Só em aço bruto, nossa capacidade é de 48,9 milhões de toneladas ao ano, para uma demanda prevista de 28,2 milhões de toneladas.”
    O presidente do IABr ressalta ainda os problemas comuns a toda a economia brasileira, como os altos custos com energia, falta de infraestrutura e alta carga tributária, “cuja consequência é a dificuldade descomunal para competir com produtos importados e para exportar”.

    As fabricantes de pneus, que vendem 25% da produção para as montadoras, esperavam crescer 2% neste ano, mas hoje preveem repetir os números de 2013, de 68,8 milhões de unidades. O número representará uma ociosidade de 20% a 25%, diz Alberto Mayer, presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). “Além de tudo, a falta de vendas de pneus novos hoje comprometerá as vendas para o mercado de reposição no futuro.”

    O quadro não é diferente para a indústria do plástico, cuja dependência das montadoras vem crescendo. “Hoje, de 30% a 50% do custo de um automóvel é produto químico”, diz a diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna.

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